quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Sonhos e Devaneios

A minha professora de italiano queria entender o que traz os brasileiros para a Italia, coisa que me parece que os italianos não entendem; o que move os italo-brasileiros para esse país com uma economia tão precária, um povo velho de idade e "vecchio di testa", como ela disse. Cabeça fechada para qualquer coisa que não seja a própria Italia. Agora digo eu: um cachorro correndo atrás do próprio rabo, num circulo vicioso e infindável.

Acho engraçado como os italianos, pelo menos os dessa região que é de quem posso falar, amam o Brasil e os brasileiros, mas os brasileiros "no Brasil". O Brasil é o país que pertence ao imaginário do povo italiano; mesmo para aqueles que o conhecem pessoalmente, o Brasil permanece em festa o ano todo e o povo só se diverte. É impressionante a visão infantil que eles têm do nosso país.

Nordeste e Rio de Janeiro e época de férias é o estereótipo do Brasil. Não pensam em São Paulo, na riqueza do interior, nos outros estados a não ser o Amazonas por causa do rio, na distribuição de riqueza desigual, no trabalhador árduo que o brasileiro é. Não pensam em nenhuma outra cidade como produtora e distribuidora de riquezas. Em geral, só existe para eles as praias e o carnaval, a batucada e a caipirinha.

Mas como você veio embora do Brasil pra cá, perguntam à mim e à minha filha principalmente, por não entenderem porque uma jovem abandonaria um local tão cheio de alegrias e prazeres, onde se dança o tempo todo, se ri e se diverte. Acho que pensam que o estado nos nutre e a vida é só carnaval o ano todo. Ainda continuam acreditando na "terra promessa", onde inexiste o trabalho.

Penso que o sonho do italiano é viver de papo pro ar o ano todo, claro que com o Estado patrocinando.

Um comentário:

Anônimo disse...

Marli, penso que não nos desvencilhamos ainda de um certo "espírito tribal", que nos faz permanecer ligados a uma família, a uma cidade, a um país, e mercê do qual aflora-nos sentimentos menos nobres contra o que entendemos por "invasor". Foi assim aqui no Brasil, por parte da burguesia assentada, quando vieram os italianos, os espanhóis, os alemães, os japoneses, coreanos e agora bolivianos. A Itália não é diferente e muita vez esse sentimento é mais forte por conta dos ilícitos cometidos pelos imigrantes tidos por invasores. Quanto a pensarem que no Brasil impera a "farra", creio que têm um um pouco de razão. Afinal o ano começa após o carnaval e em alguns Estados comemora-se-o o ano todo, não importa quandos vivam sub-vidas em favelas e quantos morram na fila de atendimento médico.