sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Historias de Cidadania - Certidão de desembarque

Eu considero muito justo os comunes seguirem as regras apesar de gostar que eles fossem um pouco mais flexiveis.

Hoje estive num comune de um requerente porque o comune onde foi dado a entrada na prática da cidadania pediu para o comune do antenato não só a confirmação do Atto di nascita mas também um comprovante da data de entrada no Brasil. Procedimento esse que está se espalhando entre os comunes, talzez uma forma a mais de prolongar o reconhecimento de mais um cidadão italiano, visto que estamos à beira das eleições e qualquer emigrante dotado de um tico e um teco não votará no Berlusconi. Será que tem algo a ver com isso ou estou delirando?

Bom, tomei o trem e fui até o comune onde me atendeu uma pessoa razoavelmente simpatica que disse que iria verificar se o email do comune já havia chegado (5 semanas depois de ter sido mandado), procurou, procurou , achou, expediu um atto de nascita na hora e disse que não tinha havido tempo ainda (??????) para que os arquvos fossem encontrados para responder às questões do comune.

E disse que essa semana não seria possivel, e talvez dentro de tres semanas, - tres semanas a mais ! e eu não consegui deixar de escapar um oh! de espanto e de decepção. Frente a isso, ela disse que talvez se eu fosse afortunada e esses dados seriam encontrados rapidamente. Pedi aos Céus que sim, que ela tenha realmente se tocado e tenha uma atitude humana e profissional. E que logo logo esses documentos "apareçam" - e olhe que esse é um comune informatizado.

Aconselho a todos que estão nessa maratona da cidadania juntar mais um documentinho, que é a certidão de desembarque. Traduzam e legalizem e isso vai poupar semanas nesse momento que está virando moda pedirem essa certidão, e a menos que eu esteja muito desinformada, anteriormente só o Trento pedia.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Sonhos e Devaneios

A minha professora de italiano queria entender o que traz os brasileiros para a Italia, coisa que me parece que os italianos não entendem; o que move os italo-brasileiros para esse país com uma economia tão precária, um povo velho de idade e "vecchio di testa", como ela disse. Cabeça fechada para qualquer coisa que não seja a própria Italia. Agora digo eu: um cachorro correndo atrás do próprio rabo, num circulo vicioso e infindável.

Acho engraçado como os italianos, pelo menos os dessa região que é de quem posso falar, amam o Brasil e os brasileiros, mas os brasileiros "no Brasil". O Brasil é o país que pertence ao imaginário do povo italiano; mesmo para aqueles que o conhecem pessoalmente, o Brasil permanece em festa o ano todo e o povo só se diverte. É impressionante a visão infantil que eles têm do nosso país.

Nordeste e Rio de Janeiro e época de férias é o estereótipo do Brasil. Não pensam em São Paulo, na riqueza do interior, nos outros estados a não ser o Amazonas por causa do rio, na distribuição de riqueza desigual, no trabalhador árduo que o brasileiro é. Não pensam em nenhuma outra cidade como produtora e distribuidora de riquezas. Em geral, só existe para eles as praias e o carnaval, a batucada e a caipirinha.

Mas como você veio embora do Brasil pra cá, perguntam à mim e à minha filha principalmente, por não entenderem porque uma jovem abandonaria um local tão cheio de alegrias e prazeres, onde se dança o tempo todo, se ri e se diverte. Acho que pensam que o estado nos nutre e a vida é só carnaval o ano todo. Ainda continuam acreditando na "terra promessa", onde inexiste o trabalho.

Penso que o sonho do italiano é viver de papo pro ar o ano todo, claro que com o Estado patrocinando.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Emigrantes e emigrados

Terminei hoje de completar a listagem dos pedidos de passaporte de Volpago del Montello, Selva e Venegazzù, essas duas últimas, frações de Volpago, de 1876 a 1888.

Ao escrever nome por nome, um pouco dessas pessoas que logo se transformam em multidões povoam a minha mente e me sinto um pouco parte delas.

É impressionante a quantidade de familias, inteiras, que deixaram a Itália. De Volpago del Montello e das frações Selva e Venegazzù foram 430 chefes de familia, homens na sua maioria com a mulher e os filhos, Às vezes mães, pais, genros, noras, cunhados, sobrinhos, netos, irmãos, ou chefes de familia mulheres, muitas também.


A falta de vontade política deixou populações inteiras sem perspectivas e roubou do País, a Italia , gerações. E das gerações roubou a vontade de continuar ser e de viver a vida italiana tendo que buscar por isso outro país que os acolhesse.

O mesmo processo hoje está ocorrendo no Brasil, e é espantoso ver tantos e tantos jovens, educados ou não, estudados ou não, profissionais ou não, chefes de família ou não, procurarem outra possibilidade de vida , deixarem os laços familiares, profissionais, pessoais, o passado para trás para poderem enxergar o futuro.

E enfim a classe política italiana que rejeitou seus cidadãos, continua hoje ainda sem ter criado uma base econômica para sustentar tanto os italianos de nascimento, assim como os de sangue.

E mostra que o Brasil pode segundo o exemplo da Italia perder uma ou duas gerações, que serão irrecuperáveis, causando ao País o mesma desesperança, a mesma falta de perspectiva do jovem italiano que não tem força e garra para mudar o seu país.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Histórias de cidadania - reconhecimento tardio de paternidade

Um conhecido meu, vindo de Londres pra fazer a prática da cidadania, despencou aqui nesta região depois de outras paradas anteriores na Italia. Seus filhos fizeram a prática em Treviso, e para isso ficaram ali cerca de 1 ano e meio. Bem, só podia. Pois como a gente sabe, nas cidades grandes isso demora.

Mesmo assim lá foi ele para Treviso, anos depois dos filhos, e percebeu que seu processo seria muito longo; decidiu retardar e voltar em outro momento para outro comune.

E lá veio ele no final do ano passado. Deu entrada nos papeis, com a non-renuncia na mão - privilégio de poucos, e esperou. Primeiro esperou que o comune analisasse tudo, depois que o comune se comunicasse com Treviso para verificar a situação do seu processo, e depois, passado o vigile, ficou mais tranquilo. Com a mancata na mão tudo parecia simples. Porém, depois de 3 meses de espera ainda nada estava definido.

Num appuntamento definitivo, em conversa com o responsável do comune onde o processo estava correndo, ouviu com a tradução de uma amiga, olhos nos olhos, que infelizmente não havia o que ser feito, o responsável não sabia como resolver o caso dele e o aconselhou, empurrando os docs em sua direção, a procurar outro comune, deixar de lado todo o processo dos filhos e começar de novo. Isso porque a sua paternidade foi reconhecida tardiamente e, segundo a lei italiana, quando isso acontece, o filho deve ir ao Consulado Italiano da sua região no país onde mora e assinar um documento que aceita este reconhecimento de paternidade. Nessas, o tempo passou, e aqui esperando há meses e já quase sem dinheiro, soube neste dia que por isso ele não era nem seria italiano.

No susto e quase sem palavras, explicou sua situação, seu desespero, seus gastos, etc., o que foi traduzido pela sua amiga. O responsável do comune pensou um pouco e ligou para uma pessoa que, depois de alguns minutos de conversa, e por sorte dele apontou a solução para o seu problema:

Há uma brecha na lei que permite que as pessoas nesta situação assinem um documento onde a pessoa aceite a paternidada em frente a um oficial/capo com poderes para tal, e assim se torne cidadão italiano.. Aqui na Italia não basta que seu pai queira que voce seja filho, voce precisa querer que ele seja seu pai. O incrível é que se ele tivesse feito este procedimento no Brasil, aí sim ele não poderia requerer a cidadania, pois quando se aceita a paternidade tardiamente você tem um prazo de poucos anos para requerer a cidadania, anos que já haviam passado.

Situação resolvida. Outro dia estive em sua cerimônia em seu comune. E desta vez, mais do que outras que já acompanhei, o brinde foi mais do que necessário.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Saúde púbica x saúde privada

A água dessa região tem muito calcáreo, a água quando ferve, fica uma nata branca, inclusive a maioria das aguas minerais.

Fiquei preocupada com isso porque eu faço reposição de cálcio, e liguei para o seguro de viagem que eu tinha feito para os tres primeiros meses de viagem. Ele cobre medico particular, exames, entre outros...

Como eu fiquei com uma dor abdominal falei por telefone no começo da noite com o seguro que me ofereceu um medico para vir em casa, mas como não era nada urgente, pra ser razoavel eu não quis deslocar um medico á noite.

No dia seguinte ao falar com o seguro novamente, foi sugerido que eu fosse para Bassano del Grappa para um pronto socorro e que eles mandariam um fax para que eu fosse atendida. Fui para Bassano, cheguei e tinha muitas pessoas na fila, o que se espera do pronto socorro de hospital publico, então percebi que tinham me mandado pra fila do INSS italiano e me mandei de lá. Se eu não tivesse pago o seguro eu não poderia reclamar, afinal o mesmo serviço funciona para todos. E depois fiquei sabendo que não havia sido mandado fax algum.

Liguei para o seguro novamente e marquei uma consulta no médico de base, que era o mais perto de casa, e que era por "coincidência" o mesmo medico q eu teria acesso caso estivesse usando o convenio do INSS Brasil-Italia , ou o mesmo serviço que eu teria direito se eu tivesse feito a Tessera Sanitária. Então paguei o serviço de uma assistência particular e o que eu acabei recebendo foi a mesma assistência a que todo morador da Italia tem direito, sem nenhuma diferença. Pelo menos no que se refere à consulta médica, e eu gostei da médica, mas tive que desembolsar 50 euro.

Com a preocupação da água, fui fazer alguns exames num laboratório particular, e mais uma vez me decepcionei com laboratório, pelo menos na aparência e a qualidade dos exames não tenho condições de avaliar. E tive que desembolsar mais 88,80 euro, eu que achei que o seguro se encarregaria de todas as providências.

Tive sorte, está tudo bem. Mas faço reposição hormonal, e pasma, fiquei sabendo que na Italia não se fabricam hormonios femininos e que a médica nem sabe o que fazer nessa situação mas ficou de pesquiasr. E estou esperando há 15 dias que ela me telefone , e apesar da minha insistência , estou a ver navios, e ela mesmo não sendo Madalena, deve ter ido pro mar...

E espero não ficar com o bolso mais vazio e o seguro reembolsar essas despesas. Pelo menos até agora, fazendo o balanço não valeu a pena eu estar pagando o seguro, mas em caso de um problema mais sério, eu pretendo nem descobrir. O que importa é que estou bem e não estou precisando nem de médicos e nem de hospitais.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Males e benes da Italia

A Italia é linda, a região onde estou morando é cheia de vinhedos e oliveiras, com uma grande atividade industrial.

Parece perfeito, mas o que incomoda é que das 12:30 às 15:30 está tudo fechado, de domingo idem, de segunda também, quarta depois do almoço, muitos. Nas fábricas ainda não sei como funciona. Bancos estou em dúvida, depois complemento.

Sinto a economia estaganada, as pessoas num marasmo que não sei o que é pior, se o stress de São Paulo ou o stress do não fazer aqui na Italia.

Se a economia estivesse bem, eu diria, tudo bem, é tradição, mas os italianos não estão pagando os financiamentos, vivem com salários ou rendas minguados, tudo bem, a classe média vive melhor aqui do que no Brasil. Mas a longo prazo se não forem feitas grandes mudanças não vejo um céu muito "sereno" pra essa classe média italiana que já está à beira da insolvência.

E descobri, claro que à custa da experimentação, que se um produto é muito mais barato que outro, ele é tecnologicamente ultrapassado. O que a princípio irrita, mas quando entendemos que todas as pessoas podem ter acesso por exemplo, a uma máquina de lavar roupa - o que não acontece no Brasil - logo veremos que é uma qualidade do país.

Seguindo com o exemplo de uma máquina de lavar roupa, com 400 euros se compra uma que funciona bem, mas uma Bosch com mais recursos tecnológicos custa 800 euros, aproximadamente, o dobro do preço. Isso sem falar das moderníssimas máquinas que lavam a vapor e o preço mais que triplica em relação às de menor tecnologia incorporada.

Essas máquinas não sei se chegaram ainda ao Brasil pro consumidor final, são bárbaras, e usadas nas lavanderias mais modernas no Brasil, mas o preço aí é compatível com a sua modernidade. Quanto mais, mais. E comparativamente todas são muito mais baratas que no Brasil.

Mas no quesito serviços, o primeiro mundo é o Brasil.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Mas, e sempre tem um mas na vida. Estou me sentindo só, sem os amigos, sem tudo o que era conhecido, mesmo que fosse o grito da criança do vizinho, o buzinar frenético ao longe dos carros na avenida, o trânsito caótico da Av. Paulista, da Dr. Arnaldo, da Av. Heitor Penteado, trânsito que conhecemos, reações tão semelhantes que deixam de ser agressivas para se tornarem parte de um dia a dia que deixamos para trás.

Mas tem o outro mas, não sinto absolutamente falta dos flanelinhas, dos mendigos nas ruas atropelando o nosso trânsito, ou eu atropelando o sono deles; das favelas e da miséria.

Pelo menos aqui nessa região onde estou, me sinto abrigada dessas calamidades sem nunca deixar de lembrar que neste país também começa a crescer um vasto contingente de imigrantes africanos, asiáticos, da europa ocidental, do oriente médio, começando a criar o que nunca os italianos tinham visto, as favelas, os cortiços, os roubos e a violência.

Internacionaliza-se não somente o capital mas também a ausência de estrutura para suportar o crescimento e as migrações, assim como migram as empresas, continua o homem a procurar melhores condições de vida e nem sempre encontram o abrigo das instituições para tal empreitada.

E enquanto aqui ainda deixam-se mercadorias dormirem do lado de fora da loja, rezo e peço a Deus/Universo que fiquem preservadas as relações de confiança entre as pessoas.

Horizontes


Em São Paulo o que mais me fazia falta, apesar de eu morar numa casa e acordar com a algazarra dos piriquitos, sábias, ben-te-vis e outros que não me recordo o nome, era poder ver o horizonte. Ver o horizonte acalma, estabiliza o sistema de equilíbrio do ouvido, cura até náusea - quando estiver viajando e enjoar, experimente fixar o olhar no horizonte, os líquidos que nos proporcionam o equilibrio se assentam e a náusea passa - e nos deixa em paz conosco mesmos. Porisso quero partilhar com voces, meus companheiros de viagem, o "meu horizonte". O "meu" nascer do sol,






E dos fundos do meu apto, à esq. o "meu" Por do Sol

Como não se sentir maravilhosa e abençoada pela natureza podendo usufruir de toda essa beleza?

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Cinzentos e Nublados Dias, mas nem menos bonitos por isso

Mason


Assim com pra Roma o Papa é o mais importante, nesse momente a internet pra mim é o que importa, senão não posso falar com os amigos e muito do que é fundamntal para mim fica para trás.

Mason

E poxa, se eu falo ficar para trás lembro da Iris, hoje estou demais sentindo a falta dela.Sei que o pelo dela não está bonito, e isso significa que ela está infeliz com a minha ausência. Mas daqui a tres ou quatro meses, e já se passaram quase dois ela vira para cá. Já tomou a segunda dose da vacina e agora vai ter que enfrentar de novo a quarentena.


Chegando a Basssano Del Grappa



Mas parece que a minha vida, fora isso, aos poucos vai entrando nos eixos. Os problemas aos poucos se arrumando, a vida se acomodando; mas é nesses momentos em que podemos parar e nos sentir, que bate a solidão, a saudade. No atropelo do dia a dia, com situações a serem resolvidas, nem lembramos do que e de quem deixamos para trás. Mas quando nos vemos frente a frente sem a atividade para mascarar os sentimentos, vem a enxurrada de emoções que se não foram reprimidas, foram empurradas para o inconsciente. E nessa batalha do consciente e do inconsciente, o inconsciente sempre ganha. E vem à tona com tudo, como que para lembrar quem realmente somos.




E o dia cinzento e gelado colaborou, para mim o mais gelado que vivi aqui. Não dá para superaquecer o apto, nem virar uma múmia no meio de tanto agasalho, então sentir um pouco o frio até que é saudável, mas agora estou me preparando para mergulhar numa cama e colocar mais um acolchoado, e dormir no quentinho e macio. E esperar que o sol venha nos brindar com mais um dia glorioso.